006 Até que pare de sonhar
Escrevi esse roteiro no quarto período da faculdade. Ele é inspirado pelo livro Teatro, de Bernardo Carvalho. Cheguei a filmar e montar o curta, o que me fez refletir sobre a possibilidade de não tentar dirigir um vídeo novamente. Direção não é mesmo a minha praia. Vou postar aqui o roteiro e ver se me animo a escrever novamente - era um exercício que me animava.
Bem, leiam e comentem.
ATÉ QUE PARE DE SONHAR
STORYLINE:
Mulher deita para dormir, mas levanta com outro corpo, que mudando de acordo com suas ações. No fim, descobrimos que era um homem que sonhava com tudo.
Ele é quem estava sonhando com tudo, ou é um novo sonho da mulher?
ARGUMENTO:
ANA, 30 anos, está deitada na cama de colcha e fronhas brancas. Ela está lendo o livro "Teatro", de Bernardo Carvalho, quando seu marido, CARLOS, 30 e poucos anos, se deita para dormir e apaga a luz do quarto, atrapalhando a leitura de Ana. Ana, chateada liga a do abajur. Ela usa uma camisola branca com pequenos bordados. Carlos usa um pijama azul claro de calça comprida e camisa de manga curta.
Carlos deseja boa noite ("boa noite meu anjo") para Ana, beija sua testa e se vira para dormir. Ana resolve guardar o livro, apaga a luz do abajur e cobre-se.
Ana dorme agitada, ela balança muito a cabeça na cama. Ela está tendo um pesadelo. Ana abre os olhos assustada e olha o teto branco.
Ana ergue-se na cama com velocidade, mas, com outro corpo. Ela agora é um homem de traços andróginos, de 30 e poucos anos (A realidade é quebrada o pesadelo. A partir de agora, Ana trocará de corpo mais vezes). Ela está usando a mesma roupa e Carlos continua dormindo.
Ana se levanta da cama e coça a virilha. Ela age como se nada estivesse acontecendo. Ana, então, vai ao banheiro onde tudo é branco. Ela se senta no vaso sanitário para urinar (lembrar que o corpo pertence a um homem, mas ela ainda é uma mulher!).
Quando ela se levanta, seu corpo já não é mais de homem, mas, de uma jovem mulher de 20 anos, muito bonita de cabelos compridos e arrumados. A roupa continua a mesma, só que deixando partes do corpo dela expostos.
Ana vai para a cozinha, também branca, e anda para a geladeira. Ela abre a porta da geladeira e quando fecha está em um novo corpo. Agora é uma senhora de uns 40 e poucos anos, gorda. A roupa continua sendo branca. Só que agora é muito mais apertada e com as mesmas aberturas que a anterior.
Ana volta para o quarto e pára na porta. Ela encosta-se ao batente da porta e olha para frente. Ela se vê dormindo junto com o marido e entra em pânico por se ver fora do corpo. Em seguida, sente uma vertigem.
Ana abre os olhos e olha novamente para o teto. Quando ela ergue o corpo para sentar vê-se que não é a Ana e sim um homem, DANIEL, de 30 e poucos anos, quase quarenta, com a barba ainda por fazer, de cabelos negros. Ele dorme só em uma cama estreita com finas barras de ferro.
Ele está ofegante e parece assustado, esfrega o rosto se levanta e vai para um banheiro. Quando levanta podemos ver que ele está em um quarto de hospital, com móveis de metal e paredes pintadas de branco e roupas de cama também brancas. Em cima da porta tem um crucifixo com uma imagem de Jesus Cristo de cabelo claro. Daniel usa uma camisola de hospital, aberta nas costas. Ele caminha até o banheiro e se olha no espelho. Ele tateia o próprio rosto como um cego lendo em braile.
Ele fecha os olhos.
ROTEIRO:
ATÉ QUE PARE DE SONHAR
FADE IN:
INT. QUARTO. NOITE.
Quarto milimetricamente arrumado. ANA, 30 anos, cabelos curtos, está sentada na cama coberta até a cintura. Ela está compenetrada lendo a "Teatro" de Bernardo Carvalho. Na mesa de cabeceira o relógio marca meia-noite. A cama é iluminada por uma luz branca, um pouco fraca, vinda de lustre em forma de globo fixado no teto. Seu marido, CARLOS, 30 e poucos anos, entra no quarto e apaga a luz. Ana aborrecida acende a luz branca do abajur.
CARLOS
Boa noite, meu anjo.
Ele a beija na testa e deita, ficando de costas para ela. Ana guarda o livro na gaveta da mesinha de cabeceira e apaga a luz do abajur.
INT. QUARTO. NOITE.
Ana está agitada na cama e acorda, abrindo os olhos assustada. Ela ergue-se para sentar. Quando senta seu corpo está modificado. Ela é um homem de traços andróginos. Ana se levanta da cama com cuidado para não acordar Carlos e caminha em direção a uma porta. Ela coça a virilha. A roupa é a mesma, mas pequena para o corpo de um homem.
INT. BANHEIRO. NOITE
O banheiro é todo branco. Com poucas coisas em outras cores, principalmente na cor de metal. Ana tira a calcinha e se senta no vaso sanitário para urinar. Quando ela se levanta e dá descarga já não é mais o homem de traços andróginos. Agora, Ana é uma mulher bonita, de 20 anos e cabelos longos. Ela levanta a calcinha e dá descarga. Sua roupa é a mesma só que um pouco mais curta, mostrando mais as pernas e com o decote maior, deixando parte do busto de fora. Ana sai do banheiro.
INT. COZINHA. NOITE.
Ana entra na cozinha e anda em direção à geladeira. Tudo na cozinha é branco. O relógio na parede marca meia-noite. Ana pega um copo na pia e caminha até a geladeira e a abre. A luz da geladeira ilumina a cozinha. Quando Ana fecha a geladeira seu corpo sofre mais uma mudança. Ela agora tem o corpo de uma mulher gorda de 40 e poucos anos. Sua roupa é a mesma e continua com o decote. Ana está com um copo d'água na mão e caminha de volta para o quarto.
INT. CORREDOR. NOITE.
Ana caminha para o quarto e pára na porta.
INT. QUARTO. NOITE.
Ana encosta no batente da porta segurando o copo d'água. Ela olha para a cama e vê o marido e ela mesma dormindo agitada, com o corpo original. O copo cai da mão de Ana. A Ana da cama acorda e abre os olhos assustada. Ela olha para o teto branco com a luminária em forma de globo.
INT. QUARTO DE HOSPITAL. DIA.
DANIEL olha para o teto branco com a luminária em forma de globo. Ele ergue-se na cama e senta. Ele está em um quarto de hospital simples, mas arrumado. Daniel está ofegante e assustado. Sua barba está por fazer. Ele olha no relógio na mesa de cabeceira que marca 8 da manhã. A janela está aberta iluminando o quarto. Ele levanta e põe os pés descalços no chão frio, procura os chinelos no chão, mas não os encontra. Ele levanta e caminha em direção a uma porta. Daniel usa uma camisola de hospital aberta nas costas. Ele já não está mais ofegante. Em cima da porta do banheiro há um crucifixo com uma imagem de Jesus Cristo de cabelos e pele clara.
INT. BANHEIRO DE HOSPITAL. DIA.
Daniel liga a torneira da pia e lava o rosto. Ainda está assustado. Daniel tateia o rosto como um cego faz para identificar pessoas. Ele então fecha os olhos.
FADE OUT.