Feb 23, 2007

026 Educação e blogs

Matéria muito interessante da revista Época.

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? O enigma levou Mayara Ferreira Ciriaco, de 14 anos, aluna de uma escola pública da periferia de Araxá, em Minas Gerais, a melhorar seu desempenho escolar. Como? Depois de pesquisar em sites, entrevistar especialistas por e-mail e participar de listas de discussão, ela montou um diário on-line - ou blog - sobre o assunto com a ajuda dos professores e do Instituto Ayrton Senna. Suas notas melhoraram e seu interesse pela escola aumentou. Mayara e outros milhares de alunos e professores descobriram que os blogs são um poderoso instrumento para o ensino.

Com os blogs, os alunos vêem que o resultado de seu trabalho não fica guardado em pastas. "Adorei o fato de outras pessoas terem visto o que fiz", diz Mayara. Segundo Marlene das Dores, que implementou o projeto de blogs quando era diretora da escola em Araxá, a freqüência dos alunos aumentou. Os que participaram, segundo avaliação feita pelo Instituto Ayrton Senna, melhoraram sua expressão escrita e verbal, venceram a timidez e hoje mostram mais vontade de pesquisar, têm mais interesse em estudar e apresentam uma visão crítica do mundo. "Alguns chegam a discordar do professor sobre assuntos expostos em aula", diz Marlene.

Com linguagem coloquial, os blogs viraram uma ferramenta pedagógica valiosa. "Eles são capazes de aproximar alunos e professores, ainda distantes na escola tradicional", afirma Betina von Staa, coordenadora de pesquisa da divisão de portais educacionais da Positivo Informática. Na escola tradicional, com lousa, giz, mesa e carteira, o professor costuma ser o único detentor do conhecimento. Com os blogs, esse modelo muda. "A sala de aula tradicional se consolidou num modelo em que um sabe mais e, por isso, ensina, fala, transmite a mensagem, e outro sabe menos. Ou não sabe nada. Por isso, copia, repete, decora", afirma Andrea Ramal, autora do livro Educação na Cibercultura. "Esse modelo não é condizente com a realidade, por isso, não se sustenta mais."

ESTÍMULO A professora Renata (à dir.) na sala de informática com seus alunos. Ela usa blogs para ensinar português

Plugados, crianças e adolescentes de hoje acabam se identificando com o professor blogueiro, pois o mestre que está ali para ensiná-los também está disposto a aprender no mesmo universo virtual em que eles adoram navegar. Nos 1.351 blogs de professores hospedados no Portal Educacional, os docentes colocam exercícios, gabaritos de provas, desafios, mapas e ilustrações. Com isso, não precisam mais perder horas corrigindo provas ou carregando pastas e mais pastas. O professor de Química Telson Melentino Júnior, do Colégio Max, em Cuiabá, Mato Grosso, aposentou o site que mantinha desde 2000 para aderir ao blog. "Eu pagava a um técnico para fazer as atualizações. Com o blog, não dependo de ninguém", diz.

Além da praticidade para os professores, os alunos acessam as páginas também para fazer comentários. "A aula não fica mais restrita aos 45 minutos. Ao acessar o blog, o professor aumenta o interesse dos alunos", afirma Betina. Conectados, os professores passam a colocar em seus blogs links para páginas interessantes. Isso aguça a curiosidade dos alunos e contribui para a constante reciclagem do educador.

Tal necessidade levou a professora de Português Gládis Leal dos Santos a montar mais de seis blogs na escola pública onde dá aulas, em Joinville, Santa Catarina. Além dos recursos de texto, ela costuma colocar nos blogs fotos de atividades e até vídeos. "Como o tema agora é o aquecimento global, vou buscar no YouTube vídeos sobre o assunto", diz ela.

Embora sejam uma ferramenta eficaz, os blogs ainda estão distantes da maioria dos alunos. Dados do Censo Escolar de 2005 mostram que apenas 30% dos alunos do ensino fundamental têm acesso a computadores. No ensino médio, é pouco mais da metade. O país está em penúltimo lugar em um ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico em número de computadores por aluno. Aqui, a média é de uma máquina para cada 50 alunos. O recomendável é uma máquina para cada cinco estudantes. Exemplos como o de Araxá mostram que a curiosidade dos alunos e o empenho dos professores podem dar resultado. Depois da criação dos blogs, a repetência dos alunos da rede pública municipal praticamente zerou. Nas outras escolas da cidade, 20% dos alunos são reprovados ao fim de cada ano letivo. O Instituto Ayrton Senna atribui esse resultado à disseminação dos computadores e dos blogs.

Nos meus quase 27 anos de vida, já vi N idéias para se manter alunos nas escolas. Nunca vou esquecer um programa televisivo que mostrou um colégio que passou a dar no almoço cachorro quente com suco de uva para os alunos não matarem mais aula. Mas acho que ainda não vi nada tão eficiente quanto essa idéia apresentada pela revista para fazer crescer o interesse dos alunos nas aulas. A lógica da vaidade (orkut e flogs estão aí pra provar isso) e a lógica da colaboratividade aplicadas à educação é uma idéia genial. Em um país sério blogs e outros aplicativos seriam usados em massa nas escolas públicas e particulares.

A matéria tb pode ser lida aqui.

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