039 A lebre e a perdiz
Dos miseráveis
Nunca zombeis.
Quem diz que sempre
Feliz sereis?Mais de um exemplo
Do sábio Esopo
Conspira em prova
Do nosso escopo.
O que em meus versos
Agora cito
Foi noutros termos
Por ele escrito.
Tinham num campo
Lebre e perdiz
(Ao que parece)
Vida feliz.
Uns cães se achegam
Do lar tranquilo;
Vai longe a lebre
Buscando asilo.
Perde-lhe o rasto
Toda a matilha,
E nem Lindóia
Lhe dá na trilha.
De quente corpo
A emanação
Ao faro a indica
De um fino cão.
Filosofando,
Nelusco arteiro,
Conhece a lebre
Só pelo cheiro.
No encalço aperta
Da fugitiva;
Não quer que a presa
Lhe escape viva.
"A caça foi-se
(Diz Carabi);
Acreditai-me;
Nunca menti".
Cansada, a lebre
Fugiu, correndo;
Ao pé da furna
Caiu, morrendo.
Diz, por motejo,
A companheira:
"Pois não campavas
De ser ligeira!
Teus pés velozes
Pra que prestaram
Se dos molossos
Te não livraram?"
Enquanto zomba
Da desgraçada
Dá-lhe a matilha
Rude assaltada.
Fia das asas
O salvamento.
Louca esperança!
Vão pensamento!
Do açor as garras,
Mísera, esquece!
Mal ergue o vôo,
Nelas perece.
Jean de La Fontaine
Tradução do Barão de Paranapiacaba
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